Caminhar com São Paulo
A Comunidade na (uni)diversidade
(1Cor 12-13; 1Cor 12,12-30)
Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança e que domine sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra. “Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus os criou, homem e mulher os criou - Gn 1,26-27. Pois “Deus disse: não é bom que o homem esteja só. Vou fazer uma auxiliar que lhe corresponda.” Gn 2,18. “Então o homem exclamou: Esta sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada de mulher porque foi tirada do homem!” Gn 2,23.
Homem e mulher foram criados por Deus, e criados com igual dignidade, iguais em direitos, ambos colaboradores de Deus na obra da Criação, cada qual com missão própria na missão lhes é confiada por Deus no “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a;” Gn 1,28.
Iguais e diferentes – iguais em dignidade de filhos de Deus, diferentes, complementares na sua missão, na sua presença no mundo.
Como diferentes serão entre si os homens, e entre si as mulheres, sem perderem dignidade, embora com diferentes talentos, diferentes carismas, que Deus lhes concedeu e que terão de pôr a render, e não os enterrar, com medo de os perder.
Cada homem, cada mulher é chamado a trabalhar na seara com todas as suas energias, para a fazer crescer, desenvolvendo uma missão, uma tarefa especifica, pessoal, sem deixar de ser comunitária, que é a sua para o crescimento do Reino de Deus.
“Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo; diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo, diversos modos de acção, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para utilidade de todos. A um o Espírito dá a mensagem de sabedoria, a outro, a palavra de ciência segundo o mesmo Espírito; a outro o mesmo Espírito dá a fé; a outro ainda o único e mesmo Espírito concede o dom das curas; a outro, o poder dos espíritos, a outro, o dom de falar em línguas, a outro ainda, o dom de as interpretar. Mas é o único e mesmo Espírito que isso tudo realiza, distribuído a cada um os seus dons, conforme lhe apraz.” 1 Cor 12, 4-11
Numa comunidade, em particular numa comunidade paroquial são visíveis irmãos com carismas diferentes, que se por um lado enriquecem a comunidade, por outro lado a tornam campo de acção dos diferentes carismas para o crescimento do Reino de Deus.
A uns o Espírito concedeu dons que os tornam mais disponíveis para serem iniciadores das verdades da Fé aos vários grupos etários, ou mesmo no apoio que prestam ao crescimento na Fé a quem já fez uma caminhada mais ou menos longa que integram grupos do sector profético – catequistas, casais que se preocupam com os pais e padrinhos das crianças que vão ser baptizadas, ou com os noivos.
A outros o Espírito concedeu maiores dons para o serviço – acólitos, leitores, cantores, directores das assembleias eucarísticas ou orientadores de tempos de oração, que os levam a integrar grupos do sector litúrgico. Não esquecendo aquelas que pela sua habilidade e bom gosto tornam os espaços celebrativos, espaços agradáveis e belos com os arranjos com que enfeitam os altares.
“Agora, portanto, permanecem fé esperança, caridade, estas três coisas. A maior delas é a caridade.” 1 Cor 13,13
S. Paulo considera a caridade a maior das três virtudes. O cristão vive em caridade e para a caridade, como pessoa e integrado na comunidade, e como tal a comunidade tem de viver a caridade, e uma das formas de a comunidade viver a caridade é dedicando-se aqueles que por algum motivo se encontram em dificuldades, materiais ou espirituais. A comunidade integra pessoas generosas que dedicam muito do seu tempo no apoio que prestam aos carenciados, aos doentes – estão em grupos que integram o sector comunitário. Este sector não se esgota nestes grupos pois as necessidades da comunidade também passam pela concretização de espaços onde as pessoas se encontrem informalmente num clima de sã alegria e convívio (almoços, jantares, passeios, visitas) A generosidade também se pode expressar pelo tempo gasto em actividades através das quais seja possível a obtenção de meios financeiros necessários para a concretização de projectos em que a paróquia se envolva.
Uma comunidade, em particular uma comunidade paroquial não é apenas e só, um conjunto de pessoas. Para ser considerada uma comunidade o conjunto de pessoas deve possuir um conjunto de atributos, entre os quais haver laços, objectivos comuns, relações de solidariedade, de dependência, de complementaridade tão sólidos que tenham como imagem as ligações físicas entre objectos, ou melhor as ligações entre os vários órgãos do corpo humano. E uma comunidade cristã estas relações estabelecidas na horizontal devem orientar-se para a vertical isto é numa ligação permanente com Jesus Cristo. Esta imagem leva S. Paulo a escrever: “Pois como o corpo é um só e tem muitos membros e todos os membros do corpo, sendo muitos, são um só corpo, assim também Cristo. De facto, num só Espírito, fomos todos baptizados para um só corpo, quer judeus quer gregos, quer escravos quer livres, e todos bebemos de um só Espírito. Pois também o corpo não é um só membro, mas são muitos. Se o pé dissesse: “Uma vez que não sou mão, não faço parte do corpo”, não deixaria por isso de pertencer ao corpo. E se o ouvido dissesse: “Uma vez que não sou olho, não faço parte do corpo. Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo ele ouvido, onde estaria o olfacto?” 1 Cor 12, 12-17
Nesta passagem S. Paulo realça a interdependência, complementariedade e solidariedade entre os vários elementos do corpo (comunidade)
Os vários elementos não têm vida própria se desintegrados do corpo
A celebração da fé é realizada em comunidade, sem esquecer a oração pessoal, feita no silêncio do quarto”. Na celebração comunitária da Fé muitas são as funções que serão desenvolvidas por elementos da comunidade cada um com os seus carismas desde o presidente a quem de forma humilde faz a recolha das ofertas.
Na atenção que dermos aos mais necessitados e sem esquecer “que a tua mão esquerda não saiba o que faz a mão direita” não poderá deixar de haver quem tenha o carisma da dedicação humilde e amorosa aos mais necessitados da comunidade, porque estes também fazem parte da comunidade não marginais nem podem ser marginalizados.
Se a divulgação da Boa Nova é uma obrigação de todo o cristão “Ai de mim se não prego o Evangelho” através da palavra que terá de ter como espelho a própria vida, cabe à comunidade, no seu todo, criar condições para que essa palavra possa ser proclamada às crianças, jovens e a adultos. Muitos jovens e adultos dedicam, com generosidade, muito do seu tempo, e com dedicação à tarefa de instruir na fé os vários grupos etários.
A comunidade através de alguns dos seus elementos entrega-se com gosto, com amor com dedicação ao serviço dos irmãos através dos dons que Deus concede a cada um.
Há talentos que são postos a render não só na formação espiritual daqueles a quem se destinam essas acções, mas também ao crescimento humano de crianças e jovens (escutas) e no apoio a “amigos especiais” e aos seus familiares.
A amizade entre os elementos de um grupo - humano só se desenvolve através de contactos pessoais, quer informais, não organizados, mas também através de encontros programados com tal objectivo - ceia de Natal, passagem de ano, festa de Carnaval, dia da Paróquia, magusto, a própria peregrinação também terá este objectivo, embora secundário, não esquecendo os jantares e almoços promovidos para obtenção de meios financeiros extraordinários, só possíveis através do trabalho dedicado de muitos a quem Deus concedeu dons que lhes concedem fazer um bom trabalho.
As visitas culturais permitem um espaço de conhecimento inter-pessoal e ainda o contacto com bens culturais, quer religiosos (cristãos ou não) ou profanos.
Numa comunidade paroquial convivem cristãos de muitos estratos sociais, de vários níveis culturais, de várias origens étnicas e todos devem ser acolhidos e também acolhedores, e onde não pode haver acepção de pessoas.
Numa comunidade por muitos elementos activos que participem corresponsavelmente na vida da paróquia serão sempre poucos: “A seara é grande e os trabalhadores são poucos. Pedi ao Senhor da seara que mande mais trabalhadores para a seara”
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