quinta-feira, 16 de abril de 2009


Nuno Álvares Pereira (O. Carm.), também conhecido como o Santo Condestável, Beato Nuno de Santa Maria, ou simplesmente Nun'Álvares (Cernache do Bonjardim, 24 de Junho 13601 de Novembro 1431) foi um general português do século XIV que desempenhou um papel fundamental na crise de 1383-1385, onde Portugal jogou a sua independência contra Castela. Nuno Álvares Pereira foi também 2.º conde de Arraiolos, 7.º conde de Barcelos e 3.º conde de Ourém.
Camões, em sentido literal ou alegórico, explícito ou implícito, faz referência ao Condestável nada menos que 14 vezes em «Os Lusíadas».
Uma escultura sua encontra-se no Arco da Rua Augusta, na Praça do Comércio, em Lisboa e no castelo de Ourém.



O génio militar de Nuno Álvares Pereira foi decisivo na Batalha de Aljubarrota.
Nuno Álvares Pereira nasceu nos Paços do Bonjardim, na vila de Cernache do Bonjardim, concelho da Sertã, mas há também historiadores que defendem que ele nasceu em Flor da Rosa, concelho do Crato. É um dos 26 filhos conhecidos do prior do Crato, D. Álvaro Gonçalves Pereira e de Iria Gonçalves do Carvalhal (Alentejo).
Casou com Leonor de Alvim a 1377 em Vila Nova da Rainha, freguesia do concelho de Azambuja.
Quando o rei Fernando de Portugal morreu em 1383, sem herdeiros a não ser a princesa Beatriz casada com o rei João I de Castela, Nuno foi um dos primeiros nobres a apoiar as pretensões de João, o Mestre de Avis à coroa. Apesar de ser filho ilegítimo de Pedro I de Portugal, João afigurava-se como uma hipótese preferível à perda de independência para os castelhanos. Depois da primeira vitória de Álvares Pereira frente aos castelhanos na batalha dos Atoleiros em Abril de 1384, João de Avis nomeia-o Condestável de Portugal e Conde de Ourém.
A 6 de Abril de 1385, João é reconhecido pelas cortes reunidas em Coimbra como Rei de Portugal. Esta posição de força portuguesa desencadeia uma resposta à altura em Castela. João de Castela invade Portugal com vista a proteger os interesses de sua mulher Beatriz. Álvares Pereira toma o controlo da situação no terreno e inicia uma série de cercos a cidades leais a Castela, localizadas principalmente no Norte do país.
A 14 de Agosto, Álvares Pereira mostra o seu génio militar ao vencer a batalha de Aljubarrota à frente de um pequeno exército de 6000 portugueses e aliados ingleses, contra as 30 000 tropas castelhanas. A batalha viria a ser decisiva no fim da instabilidade política de 1383-1385 e na consolidação da independência portuguesa. Finda a ameaça castelhana, Nuno Álvares Pereira permaneceu como condestável do reino e tornou-se Conde de Arraiolos e Barcelos. Entre 1385 e 1390, ano da morte de João de Castela, dedicou-se a realizar raides contra a fronteira de Castela, com o objectivo de manter a pressão e dissuadir o país vizinho de novos ataques.
Do seu casamento com Leonor de Alvim, o Condestável teve 3 filhos, mas apenas uma filha teve descendência, Beatriz Pereira de Alvim, que se tornou mulher de Afonso, o primeiro Duque de Bragança, dando origem à Casa de Bragança, que viria a reinar três séculos mais tarde. Lembrado como um dos melhores generais portugueses, abraça, nos últimos anos, a vida religiosa carmelita.

Vida religiosa

Nos últimos anos da sua vida Nuno Álvares Pereira recolheu-se no Convento do Carmo, onde morreu.
Após a morte da sua mulher, tornou-se carmelita (entrou na Ordem em 1423, no Convento do Carmo, que fundara como cumprimento de um voto). Toma o nome de Irmão Nuno de Santa Maria. Aí permanece até à morte, ocorrida em 1 de Novembro de 1431, com 71 anos.
Durante o seu último ano de vida, o Rei D. João I fez-lhe uma visita no Carmo. D. João sempre considerou que fora Nuno Álvares Pereira o seu mais próximo amigo, que o colocara no trono e salvara a independência de Portugal.
O túmulo de Nuno Álvares Pereira foi destruído no Terramoto de 1755. O seu epitáfio era: "Aqui jaz o famoso Nuno, o Condestável, fundador da Casa de Bragança, excelente general, beato monge, que durante a sua vida na terra tão ardentemente desejou o Reino dos Céus depois da morte, e mereceu a eterna companhia dos Santos. As suas honras terrenas foram incontáveis, mas voltou-lhes as costas. Foi um grande Príncipe, mas fez-se humilde monge. Fundou, construiu e dedicou esta igreja onde descansa o seu corpo."
Há uma história apócrifa, em que Dom João de Castela teria ido ao Convento do Carmo encontrar-se com Nun'Álvares, e ter-lhe-á perguntado qual seria a sua posição se Castela novamente invadisse Portugal. O irmão Nuno terá levantado o seu hábito, e mostrado, por baixo deste, a sua cota de malha, indicando a sua disponibilidade para servir o seu país sempre que necessário.

Beatificação e Canonização
Nuno Álvares Pereira foi beatificado em 23 de Janeiro de 1918 pelo Papa Bento XV. O seu dia festivo é 6 de Novembro. O processo de canonização foi iniciado em 1940, tendo sido interrompido posteriormente. Em 2004 foi reiniciado. No Consistório de 21 de Fevereiro de 2009, o Papa Bento XVI anunciou para 26 de Abril de 2009 a canonização do Beato Nuno de Santa Maria, juntamente com 4 outros novos santos.[1] Este Consistório é um acto formal no qual o Papa pede aos Cardeais para confirmarem os processos de canonização já concluídos. O processo referente a Nuno Álvares Pereira encontrava-se concluído desde a Primavera de 2008.

SANTO ANTONIO DE LISBOA



Santo António de Lisboa O.F.M.Conv.

Estampa de Santo António, envergando o traje dos frades menores e segurando o Menino Jesus.
Doutor da Igreja (Doctor Evangelicus)
Nascimento
of. 15 de Agosto de 1195 em Lisboa, Portugal
Falecimento
13 de Junho de 1231 em Pádua, Itália
Venerado pela
Igreja Católica
Beatificado
1232, Roma
Canonizado
30 de Maio de 1232, Catedral de Espoleto por: Papa Gregório IX
Principal templo
Basílica de Santo António de Pádua, Pádua, Itália
Festa litúrgica
13 de Junho
Atribuições
livro, pão, Menino Jesus e lírio
Padroeiro:
Portugal, Lisboa, Pádua, pobres, mulheres grávidas, casais, pessoas que desejam encontrar objectos perdidos, oprimidos, entre outros

terça-feira, 14 de abril de 2009

BANDA DE VILELA



A Associação Recreativa e Musical de Vilela, tem a sua sede na freguesia de Vilela, conselho de Paredes, Distrito do Porto, e tal como a maioria das suas congéneres, nasceu à sombra da Igreja para solenizar as cerimónias litúrgicas.Foi fundada em 1860 pelo Padre Reitor da aldeia José Machado e pelo senhor Bernardino Magalhães que foi o seu primeiro contamestre, tendo como primeiro regente o Padre Cardoso, pároco de Duas Igrejas, freguesia vizinha.A Banda de Música inicialmente era composta por 26 elementos e foi intitulada como Banda de Santo Estêvão de Vilela. Em 1890 o Prof. António Gaspar Pereira assume a direcção artística da Banda até 1917, data em que se vive uma grande crise económica mundial, a Banda passa a ser vinculada à fábrica de Boa Nova passando a ser designada com o nome de Banda da Boa Nova de Vilela, sendo o seu maestro o Sr. Américo Presa, filho da terra. Com a crise económica de então, os músicos passaram a ser funcionários na referida fábrica.Como historial de actuações, a banda tem-se pautado sempre com brilhantes concertos nas diversas regiões do país e estrangeiro, nomeadamente em Espanha e França. Tem participado em diversos certames e concursos de Bandas ao longo da sua existência, tendo granjeado sempre notáveis actuações de que são dignos de registo e memória, entre as quais em 1935 num concurso de 8 bandas entre Douro e Minho, ficou em primeiro lugar.No ano de 1979, a Banda deixou de estar vinculada à fábrica atrás mencionada e é fundada a Associação Recreativa e Cultural de Vilela, estando a funcionar até aos nossos dias.Actualmente a opinião pública coloca as suas actuações entre as melhores bandas civis do país.Na sua história mais recente, passaram pela sua direcção artística Maestros dignos de memória, tais como: Capitão Pereira de Sousa, Maestro António Lopes director da Orquestra Sinfónica do Porto de então, 1º. Sargento Músico Daniel Silva, Prof. António Gomes, Prof. Miguel de Oliveira, João Gomes, 1º. Sargento Músico Manuel de Abreu Neto, entre outros.É seu director artístico José Ricardo Freitas, que estudou clarinete na Artave e na Esmae, o qual rege um grupo de trabalho constituído por 56 elementos, com idades compreendidas entre os 9 e os 78 anos, sendo uma grande percentagem deles, jovens de ambos os sexos, saídos da sua Escola de Música. Entre os componentes contam-se elementos com formação académica, para além dos que frequentam outros cursos, entre eles a Escola Superior de Música.
Contactos
Campos - Vilela4580 - PAREDES Porto Portugal Telefone: 255 872 559

segunda-feira, 13 de abril de 2009



«São cada vez mais numerosos os Portugueses que vêm a Taizé. Eles estão a preparar uma etapa da «peregrinação de confiança». Alegramo-nos por nos irmos encontrar no Porto em Fevereiro de 2010.» Irmão Alois na igreja da reconciliação, em Taizé, na noite de Páscoa de 2009.

ENCONTRO NO PORTO


Informações e programa
Peregrinação de confiança através da terra Encontro Ibérico de Jovens no Porto
No Carnaval de 2010, entre 13 e 16 de Fevereiro, vão reunir-se no Porto milhares de jovens para procurar juntos as fontes da alegria através:
de uma experiência de hospitalidade proporcionada pelas famílias da Invicta; da beleza de uma comunhão com Deus celebrada em orações comunitárias; da descoberta de iniciativas que visam dar um rosto mais humano à sociedade; do encontro com jovens vindos de horizontes muito diversos; da reflexão bíblica e sobre a relação da fé com temas sociais, culturais ou artísticos; de uma vivência concreta em Igreja, em espírito de simplicidade, partilha e acolhimento.
Numa época em que o horizonte parece ficar mais sombrio para muitos, é importante que nos encontremos para voltar a afirmar a esperança que nos anima. Essa esperança alimenta-se da convicção de que pode nascer uma nova fraternidade entre os homens. Uma nova solidariedade pode renovar a vida das nossas sociedades… Como purificar em nós a fonte de esperança e de alegria? Não será, antes de mais, ao procurar descobrir a presença de um Deus de amor na nossa vida? Irmão Alois, durante o encontro em Bruxelas
Cristo, tu queres para cada um de nós uma vida de alegria, de felicidade evangélica. E a paz do nosso coração pode tornar bela a vida aos que nos rodeiam. Oração do irmão Roger
Mensagem do Bispo do Porto:
Caros amigos
A Páscoa do Senhor é a Páscoa da verdadeira alegria.
Como os primeiros discípulos ficamos «cheios de alegria» ao ver o Senhor das nossas vidas e da vida toda, pois venceu a própria morte, garantindo-nos a «vida em abundância».
Com Ele aprendemos que «há mais felicidade em dar do que em receber», sobretudo quando com Ele nos oferecemos ao Pai e aos irmãos, em louvor e serviço.
Esta é a alegria que nada nem ninguém nos poderá tirar.
O seu conteúdo é «a caridade que nunca acabará» e o Espírito infunde nos nossos corações.
Sabemos tudo isto, nós os cristãos, por graça e encargo do nosso Deus. Graças são encargos, para agradecermos a Deus e levarmos ao próximo.
Por isso no Carnaval de 2010 celebraremos no Porto, com os Irmãos de Taizé, «As fontes da alegria».
É uma altura de festas comuns, mas nós queremos que seja também e sobretudo da Festa que nunca acaba, no louvor, na partilha e no testemunho.
Espera-vos no Porto, o vosso irmão bispo,
+ Manuel Clemente
Programa provisório
Sábado 13 de Fevereiro 11:00-14:00 – Recepção e envio dos participantes às paróquias e às famílias de acolhimento 18:00 – Fórum musical de acolhimento 19:00 – Jantar 21:00 – Oração 23:00 – Regresso às famílias
Domingo 14 de Fevereiro Missa nas paróquias Descoberta da comunidade local (antes ou depois da missa) - Almoço com as famílias de acolhimento 16:00-18:00 – Workshops no centro da cidade 19:00 – Jantar 21:00 – Oração 23:00 – Regresso às famílias
Segunda-feira 15 de Fevereiro 09:00 – Oração nas paróquias Grupos de reflexão e partilha Descoberta dos sinais de esperança nas paróquias - Piquenique nas paróquias 14:15 – Oração nas igrejas do centro da cidade 16:00-18:00 – Workshops no centro da cidade 19:00 – Jantar 21:00 – Oração 23:00 – Regresso às famílias
Terça-feira 16 de Fevereiro 09:00 – Oração nas paróquias Grupos de reflexão e partilha Descoberta dos sinais de esperança nas paróquias - Almoço partilhado nas paróquias, com as famílias de acolhimento 16:00 – Partida
Informações práticas
O encontro dirige-se prioritariamente a jovens entre os 17 e os 35 anos. Os que têm 15 ou 16 anos podem participar no encontro desde que venham acompanhados por uma pessoa com mais de 20 anos (um responsável por cada dois jovens e uma responsável por cada duas jovens).
Esperamos que a maioria dos participantes seja acolhida em casas de famílias do Grande Porto. Todos devem trazer um pequeno colchão e saco-cama, para poderem dormir no chão. Os jovens deficientes devem indicar na sua inscrição que necessitam de alojamento adaptado.
A contribuição pedida cobre os custos das refeições, transportes e diferentes despesas relacionadas com o encontro. O seu valor será indicado posteriormente.
A inscrição no encontro faz-se neste site, a partir de Setembro. Data limite de inscrição: 15 de Janeiro.
Para mais informações: Encontro do Porto – Comunidade de Taizé 71250 Taizé, FRANÇA E-mail www.taize.fr/porto

MEDITAÇÃO DO IRMÃO ALOIS

O Evangelho de Páscoa fala-nos de uma mulher, Maria Madalena, que chora muito conturbada, como se a morte de Jesus tivesse selado o fracasso de todas as suas esperanças. No entanto, enquanto os apóstolos de Jesus permanecem fechados em casa com medo, ela vai ao túmulo. Esse gesto não expressa apenas o seu luto, mas também uma espera, por muito confusa que seja. É a espera de um amor, que o maior sofrimento não pode apagar completamente.
Então Jesus, o Ressuscitado, vem ter com ela. E vem de forma completamente inesperada, não triunfalmente, mas tão humildemente que ela nem o reconhece e pensa tratar-se do jardineiro.
E Jesus chama-a pelo seu nome, «Maria», o que vai fazer mudar tudo. Maria reconhece no seu coração a voz de Jesus. Ela volta-se para ele e chama-o: «Rabbuni, Mestre!» Começa nela uma vida nova; ela confia que Jesus está próximo, mesmo se a sua presença é agora diferente. Depois, o Ressuscitado envia-a: «Vai ter com os meus irmãos e diz-lhes que ressuscitei!» A sua vida recebe um sentido novo - ela tem agora uma missão para cumprir.
Também nós somos como Maria Madalena ao pé do túmulo. Como ela, há em nós uma espera; frequentemente há questões por resolver. Por vezes, vemos essa espera como algo que nos falta ou como um vazio. Expressamo-la talvez com clamores angustiados ou, sem palavras, com um simples suspiro. Dessa forma o nosso ser começa a abrir-se a Deus. É a espera, mesmo que confusa, de uma comunhão que nos faz viver desde já da confiança em Deus.
Então Cristo chama-nos pelo nosso próprio nome. Ele conhece pessoalmente cada um de nós. Diz-nos: «Vai ter com os meus irmãos e diz-lhes que ressuscitei! Transmite o meu amor através da tua vida.» O nosso mundo, onde há tantas pessoas desorientadas, precisa de mulheres e de homens que assumam o risco de avançar no caminho da fé e do amor. E a coragem de Maria Madalena estimula-nos. Uma mulher sozinha ousa ir ter com os apóstolos de Jesus para lhes dizer aquilo que é verdadeiramente incrível: «Cristo ressuscitou!» Através da sua vida, ela sabe transmitir o amor de Deus.
Cada um de nós pode comunicar esta confiança em Cristo. E algo de surpreendente acontece: é transmitindo o mistério da ressurreição de Cristo que nós o podemos compreender cada vez melhor. Este mistério torna-se assim cada vez mais central na nossa vida e pode transformá-la.
Mas como poderemos expressar este mistério? Para os discípulos de Jesus, a sua ressurreição foi uma novidade tão grande que lhes faltavam palavras. E, no entanto, eles ousaram comunicar o indizível: Cristo amou e perdoou até ao extremo; ele é o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (ver o vitral reproduzido aqui); o seu amor foi mais forte do que a morte; ele quebrou o círculo infernal da violência, ressuscitou e, pelo Espírito Santo, continua presente. Aí se encontra a fonte de uma esperança que vai para lá de toda a esperança.
No final da primeira carta que dirige aos crentes de Corinto, Paulo fala da ressurreição com as palavras daqueles que acreditaram antes dele: «Transmiti-vos o que eu próprio recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras; apareceu a Cefas e depois aos Doze» (1 Coríntios 15,3-5). Como Paulo, também nós nos podemos apoiar na fé dos crentes que nos precederam. Ficando sozinhos, é difícil acreditarmos na ressurreição. É fazendo a experiência da comunhão de todos os crentes, de toda a Igreja, que a nossa fé desabrocha.
Como poderemos, na nossa vida quotidiana, renovar esta comunhão pessoal com o Ressuscitado, que está sempre presente? Quando lemos uma palavra do Evangelho, é o Ressuscitado que encontramos. Na Eucaristia, é o dom da sua vida que recebemos. Quando nos reunimos em seu nome, ele está no meio de nós. E há esse caminho surpreendente onde ele vem ao nosso encontro: ele também está presente naqueles que nos são confiados, sobretudo naqueles que são mais pobres do que nós. Ele próprio disse: «Tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me» (Mateus 25,35).
Visitei uma vez os irmãos da nossa comunidade que vivem no nordeste do Brasil. Há muitos anos que eles partilham a vida de um bairro pobre. Acolhem crianças e jovens, entre eles surdos-mudos e cegos. Um desses jovens chamou-me a atenção: era cego e tinha o rosto completamente desfigurado, de uma forma tal que era difícil olhar para ele durante muito tempo. De repente, com uma voz muito segura, aquele cego cantou: «Vejo Deus! Vejo Deus no sorriso de uma criança. Vejo Deus no som das ondas do mar. Vejo Deus na mão que se abre para dar aos pobres…» Ele cantava cheio de vida e de esperança, era como um cântico de ressurreição.
Hoje há cada vez mais pessoas que têm dificuldade em acreditar na ressurreição. Acreditar em Cristo, acreditar na sua presença no mundo, mesmo se é uma presença invisível; acreditar que, através do Espírito Santo, ele habita nos nossos corações é o risco a que a festa da Páscoa nos convida; ousar apoiar-nos nesta presença. Então a ressurreição de Cristo dá um sentido novo à nossa vida e assume uma esperança para o mundo.
Esta esperança é extremamente criadora. Sem ela, o desânimo torna-se numa verdadeira tentação para muitas pessoas, e pode afectar as nossas relações interpessoais, provocar a resignação perante o nosso futuro, o futuro do mundo e até de toda a criação.
Perante o sofrimento, a violência, a exploração, o Evangelho faz jorrar uma fonte de esperança nova. Não deixemos que esta fonte se obstrua. Será que nos podemos deixar tocar pela presença do Ressuscitado, que está ao lado de cada um de nós?
O jornal francês «La Croix» pediu ao irmão Alois para escrever, ao longo do ano 2008-2009, uma meditação para cada grande celebração cristã.
DOMINGO DE PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR- Sejamos Páscoa para a multidão que nos espera!

Chegámos à Páscoa, amados irmãos e irmãs. E, concluindo estes dias absolutos, um sentimento devemos ter e uma pergunta devemos fazer-nos. O sentimento só pode ser de acção de graças. E a pergunta é esta: - Como ficámos nós, tendo ouvido o que ouvimos e celebrado o que celebrámos?Acção de graças, antes, durante e depois de tudo, em perpétua Eucaristia, que as graças de Deus só eternamente se agradecem. Entre tantos acontecimentos e perplexidades que nos tocam de perto ou de longe e nos deixam, como pessoas deste tempo e deste mundo, entre a expectativa e o desengano, as perspectivas ou a falta delas; entre realidades de variados âmbitos que nos poderiam deixar interrogativos ou inquietos: fomos vivendo em três intensíssimos dias, espiritualmente ligados a uma multidão de cristãos que o fizeram connosco nas mais diversas situações por esse mundo além, o que Cristo nos ofereceu com a sua Paixão, Morte e Ressurreição, de há dois milénios para sempre.E o que Cristo nos deu, nas palavras que guardámos e nos gestos que liturgicamente reproduzimos, resume-se a uma realidade total: - Ele mesmo! Sim, amados irmãos e irmãs, na paixão, entre tanta atrocidade que sofreu, foi Ele próprio que se ofereceu, da Ceia à Cruz. Mesmo no sepulcro, era a sua oferta também, qual semente lançada à terra para germinar em vida, a nossa vida. Porque a sua vida ressuscitada é-nos oferecida agora, começando em cada baptizado a última novidade do mundo.Precisamente a que celebramos nesta manhã pascal que, ao contrário das habituais, não tem amanhã: é já o oitavo dia, o “Domingo que não tem ocaso”. Por isso nos atrai tanto, como só a realidade total efectivamente atrai.Porque o sabemos, agradecemos. Porque muitos ainda não o sabem – ou já “esqueceram”, porque realmente o não souberam – faremos da nossa vida um “evangelho”, sentindo, falando e agindo unicamente a partir da ressurreição de Cristo. E não nos pareça demasiado, porque é apenas o começo. Indispensável e urgente, como boa nova para a esperança do mundo, onde esteja gasto e sofrido.
Retomemos as palavras ouvidas, para nos retomarmos precisamente a partir delas. Leiamo-las devagar, para que cada uma delas se inscreva nos corações, tanto ou mais do que a escrita do Sinai se gravou na antiga pedra.Maria Madalena foi de manhãzinha, ainda escuro, ao sepulcro… Tudo aconteceu connosco: a urgência de Madalena, antes de mais, pois quem mais ama é quem mais vê e mais depressa. Deixara ela a Magdala onde vivia, para seguir e servir o Rabi da Galileia, que nunca mais deixou. Até à cruz e agora ao sepulcro, onde julgava encontrar o seu cadáver. Por que o julgava, ainda estava “às escuras”, que assim estaríamos nós, se não soubéssemos da ressurreição acontecida.Nem a pedra retirada lhe deu a compreensão imediata do que sucedera, tão inaudito era de facto. Correu a chamar Pedro e o outro discípulo, julgando que lhe tinham levado o Senhor… Correram estes ao sepulcro e viram apenas as ligaduras e o sudário, tudo dum modo que dava que pensar… Viu-o especialmente “o discípulo”, que viu e acreditou. Este discípulo, que a tradição identifica como João, não é nomeado. Diz-se apenas que era “o discípulo predilecto de Jesus”. Notável referência é esta, amados irmãos, porque exactamente assim nos inclui a nós. É a predilecção do Senhor que nos evidencia a sua presença, tanto mais quanto lhe correspondamos em constante procura e profunda devoção. “Vemos”, realmente vemos, os sinais da sua vida ressuscitada, como o discípulo viu as ligaduras no chão; mas o coração alonga-nos infinitamente a vista e evidencia-nos a sua presença total e arrebatadora.É outra luz, luz que nos traz ainda mais vida do que o sol a traz à terra quando desponta. Peçamo-la de novo. Com a oração da Missa: “Concedei-nos Senhor do universo que, celebrando a solenidade da ressurreição de Cristo, renovados pelo vosso Espírito, ressuscitemos para a luz da vida”.
Se quiséssemos resumir agora, para projectar na vida, o que acabámos de ouvir, talvez o pudéssemos fazer nestes termos: é no amor que vemos Cristo e Cristo faz-nos testemunhas do seu amor. Não nos admirará esta asserção, pois sabemos por experiência própria que só conhecemos realmente aqueles que amamos. Sem disponibilidade e benevolência em relação aos outros, nunca os compreenderemos bem, nem em si mesmos nem na intenção do que digam ou façam. Cristo, que inteiramente nos ama, numa predilecção onde cabemos um por um, conhece-nos absolutamente. A Cristo conhecê-lo-emos mais e mais, na medida em que guardarmos a sua palavra e retivermos os seus gestos, na leitura, na oração e na vida sacramental. De tudo ressaltará uma presença, em tudo se experimentará vida nova. Tanto mais que, como aconteceu com Madalena, Pedro e o discípulo, também acontecerá connosco em Igreja e na proximidade dos outros ou em relação aos outros. A vida ressuscitada de Cristo alarga e oferece em toda a parte a comunhão plena com Deus e com os outros, e com Deus “através” dos outros. É quando estamos reunidos em nome de Cristo que mais experimentamos a sua presença no meio de nós. Foi esta a sua promessa, por ela somos Igreja. Também é no serviço aos outros que o servimos a ele, pois se identifica com a cruz inteira do mundo, que fez sua, para dela e da morte ressuscitar, ficando ainda mais connosco.Podemos e devemos concluir que ver as coisas a esta luz faz-nos peregrinos da ressurreição no mundo, em caridade ressuscitadora.
Abre-se agora o tempo pascal, que devemos viver com particular empenho nas actuais circunstâncias. O Evangelho falava-nos da perplexidade dos que “ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos”. Dois milénios depois, é a experiência certa da ressurreição de Cristo que nos faz entender as Escrituras, precisamente a partir dela, e nos faz perspectivar a vida a partir da vitória de Cristo sobre a morte.Morte é a não vida, sendo seus sinais, tristíssimos sinais, todos os actos ou omissões, pessoais e colectivos que eliminem ou diminuam a existência humana e a harmonia do mundo. Vão do desrespeito pela vida, quando esta não é considerada na sua inteireza, da concepção à morte natural, ao desprezo pela dignidade de cada um, que só em condições normais de educação, saúde, trabalho, justiça e participação cultural e cívica se pode realizar, do plano local ao internacional.Vida é não morte, ou melhor, é cumprimento de todos num saudável colectivo que tem em Deus uno e trino a sua origem e o seu destino feliz.“Tempo pascal” são dias preenchidos de caridade, amor novo que o Espírito de Cristo derrama em nossos corações, como primeiro dom do Ressuscitado: não temos outro sinal nem certificação de que as nossas vidas são pascais também e por isso mesmo renovadas e livres. Mas este mesmo nos basta, para abrirmos em Páscoa todo o tempo que se segue e florirmos em esperança cada local e circunstância que integremos.Nestes dias sairá o “compasso”, levando por ruas e casas o anúncio da ressurreição de Cristo, para que aí mesmo ressuscitem as vidas. E é urgente que, nos tempos que correm, esse anúncio leve esperança e coragem a quantos estão tristes ou deprimidos pelas mais diversas razões, da doença ao desemprego, da solidão ao cansaço. Como urgente é também que, recolhido o compasso, ele continue na vida e no testemunho de todos os discípulos do Ressuscitado, pois não lhes faltará vida para partilharem nem luz para iluminarem quem dela careça. E o que agora temos “em vez” dos outros é exactamente o que temos “para” os outros, pois graças são encargos. Tempo pascal é geralmente tempo de “comunhões”, primeiras ou outras, onde a vida ressuscitada de Cristo nos é sacramentalmente, realmente, oferecida. Pois que sejam fervorosas, para serem socialmente consequentes, em autêntica “prática”.O tempo pascal conclui-se em Pentecostes, irradiação universal do Espírito de Cristo. Uma antiga tradição fazia deste tempo ocasião de mais fraternidade e partilha. Nalgumas terras portuguesas ou da nossa diáspora, mantêm-se ou retomam-se, da Páscoa ao Pentecostes, festejos tradicionais ou renovados, onde se reconciliam e aproximam pessoas, se partilham refeições e se aclama o Espírito. E muito bom será se, do mesmo modo que a Quaresma está plena de sugestivos motivos de conversão e penitência ligados à Paixão de Cristo, tão compartilhada por sua Mãe Santíssima, nós conseguirmos preencher também os cinquenta dias pascais de motivos próprios de caridade e paz, no Espírito do Ressuscitado. Há aqui algo a recriar, também como Nova Evangelização.Na verdade, caríssimos irmãos e irmãs, tudo quanto celebrámos neste Sagrado Tríduo é demasiado importante e necessário a todos, para que fique apenas na recordação dalguns: - Sejamos Páscoa para a multidão que nos espera!



Sé do Porto, 12 de Abril de 2009+ Manuel Clemente

DIZ A SAGRADA ESCRITURA:

"Celebramos a festa, não com fermento velho. nem com fermento de malícia e pervesidade, mas cm os pães ázimos da pureza da verdade"

(Cor. 5,8)

PÁSCOA, FESTA DA VIDA

A Páscoa é a festa mais antiga celebrada desde tempos remotos. Era a Festa da Primavera: depois do inverno, da morte aparente da natureza, os pastores observaram o triunfo da vida nos novos rebentos, nas flores, na luz, e gratos, ofereciam aos deuses as primícias dos rebanhos, agora com pastagens abundantes.
Os judeus não olharão tanto para a natureza, mas mais para o íntimo, para a sua passagem de povo escravizado a livre, e pressentem que a celebração da festa resume a festa da humanidade, da criação e da aliança de Deus com os homens.

Esta história, para os cristãos, encontra a sua realização total na ressurreição de Jesus, na vitória da vida sobre a morte. Principio da vida nova que Ele nos oferece.

sábado, 11 de abril de 2009

SEXTA-FEIRA SANTA

Meditação do irmão Alois
A cruz não é a última palavra
A cruz de Taizé
No Natal celebrámos um Deus que está perto de nós, que se fez homem por amor e partilha a nossa existência. Hoje recordamo-nos de que Jesus vai até ao extremo neste caminho: ele é traído, preso, condenado, torturado e morre como o último dos últimos.
Jesus põe-se do lado dos fracos e dos pobres. À primeira vista é um escândalo ou uma pura loucura. Dando a sua vida na cruz, ele escolhe o último lugar e aceita a vergonha do fracasso. Ele assume sobre si próprio o peso do sofrimento, do ódio e da morte, para nos libertar desse mesmo peso. Desta forma, ele inscreve o sim de Deus no mais profundo da condição humana. Mesmo maltratado pelos homens, Jesus não retira esse sim ao ser humano. É a sua missão: ele realiza-a e paga o seu preço.
Na cruz, Jesus abre os braços para reunir toda a humanidade e toda a criação no amor de Deus. Ele é a manifestação da bondade de Deus por cada ser humano. Para reconciliar a humanidade com Deus, «Jesus esvaziou-se a si mesmo, tomando a condição de servo. Tornando-se semelhante aos homens… tornando-se obediente até à morte e morte de cruz» (Filipenses 2,5-11).
Jesus inaugura assim a nova Aliança, uma nova comunhão com Deus. Trata-se de uma partilha: Jesus assume sobre si próprio aquilo que separa a humanidade de Deus, assumindo o destino de cada pessoa; e, em troca, comunica-lhes a sua vida. A descida de Deus em Cristo através da encarnação e da humilhação extrema da cruz serão, para sempre, fonte de espanto e de vida nova. Já no século II, Ireneu de Lyon chegou ao ponto de dizer: «Por causa do seu amor infinito, Cristo tornou-se naquilo que nós somos, para nos tornar plenamente naquilo que ele é.»
No momento em que leva aos ombros toda a humanidde, Jesus não esquece a dor daqueles que lhe são muito próximos. Vê ao seu lado Maria, a sua mãe, e pede a João, o discípulo que ama especialmente, para tomar conta dela a partir daquele momento (João 19,26-27). Assim, muito humildemente, debaixo da cruz nasce a Igreja.
Jesus também vê ao seu redor aqueles que o perseguem. Quando chega esse momento decisivo, pede a Deus para lhes dar o perdão: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem» (Lucas 23,34). O perdão de Deus é sem limites e permanecerá para sempre uma fonte a jorrar.
Na cruz, Cristo partilha tudo connosco, inclusivamente o silêncio de Deus: a única resposta ao seu próprio sofrimento é um grande silêncio. Jesus faz a experiência do que significa sentirmo-nos longe de Deus, abandonados. No entanto, no coração desse abandono, utiliza as palavras do salmista e clama com voz forte: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?» (Mateus 27,46). Desta forma, até este abandono é inserido no diálogo de amor entre Jesus e o seu Pai.
E o grito angustiado de Jesus transforma-se. Há apenas uma realidade que ninguém lhe pode tirar: é a confiança de que é amado por Deus e de que, dando a sua vida, ele transmite esse amor. Os seus lábios podem então murmurar: «Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito» (Lucas 23,46). E o seu último sopro, cheio de uma dor imensa, é ao mesmo tempo a efusão do amor de Deus.
O apóstolo Pedro amava Jesus, mas teve dificuldades em aceitar um messias pobre. Ser discípulo de um messias humilhado tornou-se de tal forma insuportável para ele que, depois de Jesus ter sido preso, acabou por negá-lo. Então Jesus, nas mãos dos soldados, olha para ele com amor e mostra-lhe que não lhe vai retirar a sua confiança (Lucas 22,61). Pelo contrário, vai confiar-lhe depois a sua pequena Igreja nascente. E Pedro poderá testemunhar, com os outros discípulos, que a cruz não foi a última palavra.
A cruz ultrapassa o nosso entendimento, mas ao celebrar este acontecimento compreendemos cada vez melhor a esperança extraordinária à qual ele nos abre. Essa esperança não é um optimismo vago. Pôr a nossa confiança em Cristo, morto e ressuscitado, abre os nossos corações para enfrentarmos as situações difíceis com lucidez. Numa comunhão pessoal com ele, Cristo comunica-nos um novo impulso.
Penso num jovem que encontro por vezes em Taizé. Ele tem uma doença incurável que vai progredindo com o tempo e sofre terrivelmente. Já perdeu muitas possibilidades que lhe teriam proporcionado uma vida feliz. E, no entanto, o seu olhar e todo o seu comportamento permanecem surpreendentemente abertos. Ele disse-me um dia: «Agora sei o que significa a confiança. Antes eu não precisava dela, mas agora preciso.» Este jovem transmite como que um reflexo, muito humilde mas real, do mistério da cruz. Nem ele pode imaginar a esperança que comunica a muitas pessoas, através da sua atitude.
Em Taizé, não apenas na Sexta-feira Santa mas em todas as sextas-feiras do ano, no final da oração da noite pomos no chão o ícone da cruz, cuja imagem aqui vem reproduzida. Todos os que o desejam podem aproximar-se dele, pôr a sua testa no madeiro da cruz e, com esse gesto, confiar a Cristo os seus próprios fardos e os das pessoas que lhe são confiadas.
Esta oração de sexta-feira à noite permite unir à via sacra de Jesus todos os que carregam o peso de uma cruz nas suas vidas: os que sofrem na sua alma ou no seu corpo, os doentes, os que tiveram que deixar o seu país, as vítimas de todo o género de injustiças.
Deus compreende todas as línguas das nossas intercessões, o francês, o alemão, o inglês, o coreano, o swahili… Mas ele também compreende a linguagem do nosso corpo. Se não conseguimos formular uma oração com palavras, podemos expressar confiança quando nos aproximamos da cruz. Ousemos fazer este gesto de confiar tudo a Cristo, de lhe confiarmos nós próprios e os outros!
Podermo-nos reunir desta forma à volta da cruz, para que o mistério pascal se torne cada vez mais no mistério fundamental da nossa vida, é algo de muito precioso. E Cristo toma sobre si próprio aquilo que é pesado para nós. Ele diz-nos no Evangelho: «Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que eu hei-de aliviar-vos» (Mateus 11,28).

quinta-feira, 9 de abril de 2009

MEDITAÇÃO DO IRMÃO ALOIS PRIOR DE TAIZÉ

Quinta-feira Santa: «Eu amei-vos»
Jesus lava os pés aos seus discípulos, pintura do irmão Sylvain, de Taizé
«Eu amei-vos»: estas palavras aparecem várias vezes no relato que o Evangelho de São João faz sobre a última noite de Jesus com os seus discípulos (João 13,34 e 15,9.12). Elas são como uma chave que nos dá o sentido de toda a narração.
Para evocar esta última noite, João conta como Jesus começou por lavar os pés dos seus discípulos. Os outros três Evangelhos recordam que nessa noite Jesus instituiu a Eucaristia. Sermos convidados a comemorar no mesmo dia a instituição da Eucaristia e o lava-pés é algo de muito feliz. Há uma íntima relação entre estes dois gestos: numa grande simplicidade, expressa-se todo o mistério da pessoa de Jesus. Por uma forma diferente de palavras, talvez melhor do que por palavras, Jesus mostra aquilo que está no centro do Evangelho: «Eu amei-vos até ao extremo.»
Tanto para a Eucaristia como para o lava-pés, o contrate entre o gesto e o conteúdo do seu significado é impressionante. É a pobreza e a simplicidade destes dois gestos que os tornam acessíveis a todos.
A Eucaristia resume toda a nossa fé, e só a podemos receber numa atitude de adoração, com um espírito de criança. É celebrando este mistério que o podemos compreender cada vez melhor.
«Isto é o meu Corpo»: estas palavras ultrapassam a nossa compreensão. Nunca ninguém tinha falado assim nem nunca ninguém voltará a falar assim. São palavras únicas em toda a história das religiões, que só encontram a sua justificação em si mesmas. Evitemos tentar encontrar uma explicação que feche o mistério apenas na nossa percepção. Isso foi uma tentação constantemente presente na Igreja.
Quando celebramos a Eucaristia, confiamos nas palavras de Cristo transmitidas pelos primeiros cristãos: «Isto é o meu Corpo, entregue por vós.» A Igreja comunica, de geração em geração, o mistério que é actualizado pelo Espírito Santo.
Pela Eucaristia acolhemos na nossa vida Cristo, que foi até ao extremo do amor dando-se a si mesmo. E o dom da sua vida dá fruto nos seus discípulos. «Eu sou a videira; vós, os ramos… Nisto se manifesta a glória do meu Pai: em que deis muito fruto» (João 15,5.8).
O lava-pés (do qual se apresenta aqui uma imagem muito simples) permite-nos contemplar a humildade de Jesus. Ela há-de espantar-nos sempre. Esta profunda humildade contém uma força de amor que renova toda a criação.
A Omnipotência de Deus é a do amor. Jesus «venceu o mundo» (João 16,33), não por ser mais forte que ele, mas porque introduziu na humanidade uma força diferente, absolutamente nova. Na noite de Quinta-feira Santa, cantamos durante muito tempo: «Ubi caritas et amor, Deus ibi est» (Onde houver caridade e amor, Deus está presente.)
O poder de Deus é uma energia de amor que age a partir de dentro e de forma mansa. Ele pode transformar as realidades mais duras, até mesmo a morte.
Será que estamos suficientemente conscientes de que ao celebrar a Eucaristia abrimos as portas a Cristo, para que a sua força de amor possa irrigar a nossa vida e a do mundo de hoje?
Será que estamos suficientemente conscientes de que através de um serviço tão simples quanto o lava-pés permitimos que a sua presença de Ressuscitado aja no mundo? O nosso empenho situa-se muitas vezes no âmbito do sinal, tal como, aliás, toda a vida de Jesus o foi. Talvez não façamos nada mais do que lavar os pés daqueles que nos são confiados. Mas os nossos actos de solidariedade são sinais que podem abrir uma passagem a Cristo e transfigurar a humanidade.
Será que estamos suficientemente conscientes de que a Eucaristia e o lava-pés são antecipações do Reino? Estas antecipações abrem ao coração do mundo um horizonte de esperança.
Em Taizé, recebemos a graça de fazer uma experiência muito forte da ligação entre a Eucaristia e o lava-pés através da vida de alguns de nós, que viveram oito anos num dos bairros de lata mais pobres de África. Foi em Mathare Valley, em Nairobi, no Quénia. O irmão Roger esteve lá durante algum tempo e depois um pequeno grupo de irmãos continuou. Sem grandes meios para modificar as inúmeras situações angustiantes, que sentido poderia aquela presença assumir?
Como permanecer lá? A exemplo das Irmãzinhas de Jesus, o irmão Roger perguntou ao Arcebispo se, na pobre barraca onde moravam, os irmãos poderiam guardar a presença eucarística. O Arcebispo deu o seu consentimento e foi ele próprio celebrar a Eucaristia no bairro de lata. Mais tarde, um dos irmãos escrevia: «Sem uma oração quotidiana em frente ao dom eucarístico eu não teria aguentado.» Era como uma fonte de vida que permitia aos irmãos continuar, com a sua presença simples, a «lavar os pés» das pessoas daquele bairro. E, pouco a pouco, foram nascendo iniciativas de solidariedade.
Claro que viver uma presença tão gratuita como a dos meus irmãos não dispensa os cristãos de se empenharem com vista a mudar as estruturas de injustiça. Mas se não vivermos perto dos mais pequenos não podemos reconhecer a sua dignidade nem permitir que ela seja respeitada. O apelo do Evangelho para lavarmos os pés aos pobres leva-nos a ultrapassar um espírito de assistência ou de paternalismo e a descobrir tudo o que eles têm para nos dar e que nós podemos receber deles.
Estarmos mais conscientes da relação entre Eucaristia e serviço: não haverá aí uma fonte de renovamento para a Igreja de hoje? Sim, a Eucaristia convida-nos ao lava-pés: ir, tal como Jesus, até ao extremo do amor, amar como ele amou.
O jornal francês «La Croix» pediu ao irmão Alois para escrever, ao longo do ano 2008-2009, uma meditação para cada grande celebração cristã.

Noite de Ceia de Senhor

Pelo seu gesto, que constitui um dos momentos importantes da Ceia Pascal Jesus manifesta-nos a sua realidade de "Servo" que atingirá o limite extremo da CruzCelebração da Ceia do Senhor e Lava Pés às 21h

Adoração do Santissimo das 22h às 24h

Paroquia de Santo Estêvão de Vilela

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Semana Santa



O papa Bento XVI presidirá todos os ritos da Semana Santa, entre eles os ofícios da Quinta-Feira Santa, quando lavará os pés de 12 homens, em lembrança ao ato de Jesus Cristo com os apóstolos, e destinará a coleta desse dia à pequena comunidade católica da Faixa de Gaza, informou hoje o Vaticano.
Este ano, as meditações da Via-Sacra da Sexta-Feira Santa, que ocorre no Coliseu de Roma, foram encarregadas ao indiano Thomas Menamparampil, arcebispo de Guwahati, no estado de Assam.
Em 5 de abril, no Domingo de Ramos, Bento XVI presidirá de manhã na praça de São Pedro do Vaticano a Procissão de Ramos, que inicia a Semana Santa.
Nesse mesmo dia, a Igreja celebra a Jornada Mundial da Juventude, que este ano tem como lema "Colocamos nossa esperança no Deus vivo".
Durante a mesma, os jovens de Sydney (Austrália) entregarão a Cruz desta jornada à juventude de Madrid, onde acontecerá, em 2011, o próximo encontro mundial da juventude católica.
Na Quinta-Feira Santa, dia 9 de abril, oficiará de manhã na Basílica de São Pedro a Missa Crismal. À tarde, irá à basílica de São João de Latrão para realizar os ofícios da Quinta-Feira Santa (a Última Ceia) e, durante a cerimônia, lavará os pés de 12 sacerdotes.
O dinheiro recolhido durante a cerimônia será destinado à pequena comunidade católica de Gaza.
Na Sexta-Feira Santa, dia 10 de abril, lembrará na Basílica de São Pedro a Paixão do Senhor e, no começo da noite, irá ao Coliseu de Roma para presidir a Via-Sacra.
No Sábado de Aleluia, dia 11 de abril, presidirá na Basílica de São Pedro a Vigília Pascal, considerada a "mãe de todas as vigílias", a noite na qual a Igreja permanece à espera da ressurreição do Senhor.
No dia 12 de abril, domingo, oficiará a Missa da Ressurreição, pronunciará a tradicional mensagem de Páscoa e oferecerá a bênção "Urbi et Orbi".